A formiguinha Finfin e o Formigueiro Vizinho
Sou a cigarra Cega-Rega e lá de cima do abacateiro acompanho uma história que quero agora contar e cantar pra vocês. Uma história sobre um belo formigueiro e formiguinhas muito trabalhadeiras.
E tudo começa assim...
A formiguinha Finfin todos os dias carregava folhinhas para seu formigueiro. Era um formigueiro bonito, amplo e com várias galerias. Ficava no jardim dos fundos ao lado do jasmim, entre a roseira e o abacateiro. Havia outros formigueiros próximos, mas aquele era, sem dúvida, um bom formigueiro.
Assim como Finfin, havia outras tantas formiguinhas que carregavam folhinhas, umas mais, outras menos. Tinha formiguinhas guardiãs, caçadoras, limpadeiras, organizadoras e tinha as que ensinavam as mais novas. Era realmente um grande formigueiro, com um bom estoque de folhinhas. Muitas folhinhas significam muuuuitos fungos suculentos e deliciosos.
Quando o sol despontou e invadiu o formigueiro, Finfin já estava trabalhando. Era um dia especial, ela iria visitar outro formigueiro e não é todo dia que isso acontece! Antes de sair, fez questão de limpar bem direitinho seus três pares de pernas, seu par de antenas e suas
mandíbulas. Vai que no caminho encontre folhas verdinhas, não é mesmo!?
Finfin entrou um pouco acanhada no formigueiro vizinho. Com suas enormes antenas observava o local e ficou encantada! Todas as formigas ali eram companheiras, mesmo com poucas folhinhas armazenadas. Na verdade, quase não tinham folhas verdes suculentas e gostosas como em seu formigueiro. Eram folhas amarelecidas e a maioria já estava apodrecendo, quase sem fungo algum. Naquele instante veio-lhe uma inspiração! Por que não ajudar a trazer mais folhinhas verdes para o formigueiro vizinho!? Ela havia gostado demais daquelas formigas, tinha sido muito bem recebida, com alegria e muita
festa.
Assim que voltou para casa, Finfin contou para suas amigas como era o formigueiro vizinho. Disse entristecida que lá havia só folhas velhas, quase sem fungos gordinhos e gostosos para se comer. Queria muito ajudar a levar folhas suculentas para as novas amigas. Talvez de jasmim e roseira, essas produziam fungos deliciosos! Suas amigas gostaram da ideia, iriam ajudar. Passada a noite, o dia despontou meio sem graça; sem sol, sem chuva. Não estava frio, nem tão pouco calor. Era mesmo um dia estranho. De repente, Finfin escutou suas amigas gritando:
- Finfin, Finfin você não sabe o que aconteceu!?
- O quê, o quê????? Perguntou ela aflita.
- Estamos fechadas dentro do formigueiro, não poderemos sair por
alguns dias seguidos. Parece que tem uma enorme barreira na entrada do formigueiro. Puxa... logo hoje que Finfin iria novamente ao formigueiro vizinho. Já tinham combinado, ela estava tão ansiosa para o novo encontro... Ah!
O formigueiro vizinho tinha tão poucas folhinhas! Como será que elas estavam? Finfin estava imersa em seus pensamentos, quando uma de suas amigas lhe disse que era geral, todos os outros formigueiros estavam trancados. Ninguém saía, ninguém entrava.
-Que horror!!!!!
Finfin e suas amigas tiveram que inventar um monte de coisas diferentes pra fazer em casa.
No começo foi divertido, mas logo ficou chato. O tempo foi passando e a formiguinha não parava de pensar no formigueiro vizinho e os poucos fungos que lá havia. Era possível sair
de casa só para coisas essenciais, buscar folhinhas verdes e rapidamente voltar.
Resolveu então que iria ajudar as novas amigas! Chamou suas companheiras e elas convidaram outras formiguinhas e começaram a trabalhar. Em meio às organizações para o corte das folhas a formiguinha Fanfan chegou. Finfin e Fanfan não eram amigas tão
próximas, mas Fanfan era trabalhadeira e estava disposta a ajudar. E como ajudou!
Em revezamento saiam do formigueiro para cortar folhinhas gostosas do jasmim ao lado. Suas folhinhas eram tão suculentas, as flores branquinhas tão cheirosas, perfeitas para criar muitos fungos deliciosos! Seguiam as trilhas abertas até o formigueiro vizinho.
Quando viram chegar as verdes folhinhas as vizinhas se alegraram de monte e num abraço solidário trocaram cumprimentos de antenas e mandíbulas. Eram muitas e muitas folhinhas de jasmim chegando, Finfin e Fanfan tinham organizado boas porções. Eram formiguinhas
trabalhadeiras.
No formigueiro vizinho tinha muitas formiguinhas que não conseguiam sair para trazer folhinhas; outras, de tão fraquinhas, quase não se mexiam. Finfin e Fanfan vendo aquilo se esforçaram ainda mais e chamaram outras formiguinhas para ajudar. O movimento de Finfin e Fanfan foi crescendo e chegou em outros formigueiros vizinhos. Estavam todos passando por dificuldades também, pois estavam confinados em suas casas.
Juntou-se a Finfin e Fanfan outra formiguinha: Fenfen. Fenfen tinha muitas dificuldades, mas era uma boa amiga e muito solidária, resolveu fazer o que podia. Não era muito, mas era o suficiente para aumentar as porções de folhinhas verdes, pois agora descobriram que
havia formiguinhas que não tinham um bom formigueiro para morar. Eram formigueiros improvisados que não permitiam acumular folhas suficiente para criar fungos. Essas formiguinhas estavam em situação muito difícil.
Finfin, Fanfan e Fenfen, trabalhavam dia e noite, noite e dia para tentar levar folhinhas verdinhas para as formiguinhas necessitadas. A princípio, Finfin havia conseguido muitas e muitas doações de folhinhas de seu formigueiro, mas o estoque estava baixando e as
outras formigas, com medo de que faltasse para elas, começaram a não doar tantas folhas assim. Mas Finfin, Fanfan e Fenfen não desistiram e continuavam a cortar folhinhas e pedindo doações. Os dias permaneciam estranhos, nem frio nem calor, sem sol, mas também sem chuva, tinham uma atmosfera pesada. Outra notícia desagradável chegou até Finfin e suas amigas, não poderiam mais levar folhinhas verdinhas e suculentas para o formigueiro vizinho, nem tão pouco para as formigas que moravam em casas improvisadas.
- Quem proibiu? Perguntou Finfin indignada.
- Ordens superiores. Disseram suas amiguinhas.
Finfin era uma formiga muito pequena, trabalhadeira, não entendia muito bem das ordens superiores. Só queria saber de trabalhar e ajudar. Agora foi a vez de Fanfan ter uma ideia. Lembrou-se de seu amigo, a formiguinha Fonfon! Fonfon tinha patas grandes e fortes, conseguia transportar muitas folhinhas de uma vez só. Como era formiga operária de transporte conhecia bem todo o jardim. Finfin e Fanfan queriam lhe pagar com folhinhas, pois sabiam que Fonfon precisava, seu formigueiro também não tinha muitas folhinhas
verdinhas e fungos suculentos. Mas Fonfon recusou e disse:
- Se vocês fazem o bem eu faço também!
E fez. Começou a levar as folhinhas verdinhas já babadas para os formigueiros necessitados. Sim, babadas! Porque a baba de formiga é que faz os fungos crescerem. Não sabiam? Eu confesso que também não sabia. Sou só uma cigarra e presto meus dias a cantar e contar. Descobri acompanhando essa história. Fonfon não tinha preguiça, levava folhinhas verdes babadas para as formiguinhas necessitadas depois de ter trabalhado o dia todo. Ele era uma formiga operária de transporte não podia se dar ao luxo de ficar em casa, precisava sair e carregar muitas e muitas folhinhas todos os dias.
Finfin e Fanfan continuam trabalhando para conseguir doações para as formigas vizinhas e outras tantas. Apesar das dificuldades aumentarem a cada dia, não desistem, são trabalhadeiras. Fenfen segue não podendo ajudar muito, mas ajuda com o que pode.
Devagar e sempre cortando folhinhas ora de jasmim, roseira ou hibisco. Leva para Fanfan que, dizem, fica até tarde babando nas folhinhas. Machucou seu joelhinho, mas segue babando e babando, Fonfon transportando e Finfin organizando. Digo a vocês que essa história não termina aqui, continua ainda. Não sei por quanto tempo. Os formigueiros ainda permanecem fechados, as formiguinhas sem poder sair de casa, umas com muita comida,
outras com nem tanto. Mas a vida segue, formiguinhas trabalhando e eu contando e cantando.
Essa história é inspirada no movimento social organizado pela
comunidade Veredas em parceria com a Abrace Solidário. O objetivo é
ajudar famílias em estado de vulnerabilidade no entorno da escola.