HISTÓRIA | A FLOR DE SÃO JOÃO
- Edith Asbeck
- 16 de jul. de 2020
- 2 min de leitura
Era uma planta que crescia alta, era quase uma árvore, um pouco mais frágil talvez, lembrava bastante um arbusto, mas é irrelevante chamá-la de árvore ou arbusto, pois notável era sua disposição de presentear o mundo com suas folhas e flores, contribuindo assim para a beleza do mesmo.
Quando chegou a primavera, muitas plantas se enfeitaram com flores. Ela não. Chegou o verão e as árvores se engalanaram com flores. Também o verão, assim como fizera a primavera, não a presenteou com flores, mas ela guardou em seu íntimo luz e calor do sol. Chegou o outono e a planta, frágil árvore ou forte arbusto, olhava o rubro sol do ocaso, triste por ter apenas a cor verde de suas folhas para enfeitá-la. Porém, pacientemente esperou. E então veio se aproximando o inverno. Certa manhã a árvore notou uns botões verdes nas pontas de alguns galhos.
Seriam botões das suas flores? – Qual o que! Passadas horas, dias, tudo quanto aparecera eram apenas protuberâncias verdes que, dilaceradas, mostravam pontos amarelos e vermelhos!
A planta estava triste, muito triste. E esperou.
Eram as noites mais longas do ano. Em muitos lugares, fogueiras traziam luz para dentro da escuridão da noite. Comemorava-se o nascimento de João, aquele que viria a ser o Batista, exatamente como esse nascimento fora comemorado havia centenas de anos. A planta sentiu a força do fogo, luz banindo as trevas, vitalidade lançando-se para o éter, o espaço, ao abandonar a matéria. Sentiu a energia da vida derramada no espaço.
Na manhã seguinte, ostentava na ponta dos galhos, em volta dos caroços coloridos que formavam um buquê, uma fulgurante coroa de labaredas escarlates: rubras folhas, folhas vermelhas!
A planta não recebera flores vistosas, mas suas folhas, aquelas que mais próximas estavam das flores feiosas, absorveram a força e a cor das fogueiras de São João e as juntaram à força guardada do sol do verão. E, mesmo não sendo flores, passaram a ser chamadas de “Flor de São João”, talvez por trazerem, como trouxera João Batista, a plenitude da força do verão anímico dentro de si. Não importava ter flor ou ter folhas vermelhas. Importava trazer luz, trazer fogo, beleza e certeza do amanhã, tal como o outro João, aquele que em Éfeso vivera uma vida tão longa que se tornara um verdadeiro mito, uma mensagem e uma imagem da Eternidade.